Era ele, era ela.

sexta-feira, abril 29, 2011 11 Comments

Impressionado pelas palavras que lhe foram ditas, ele chegou em casa cambaleando,  o peito arfando, suava. Pôs as mãos no rosto, tentou se acalmar. Ficou imóvel por um, dois, três segundos, tirou as mãos do rosto, deu um suspiro profundo e abriu os olhos.
-Eu não sei quem é você! Não é um homem, é um monstro! – Eram os gritos que davam giros, voltas e voltas, giros na cabeça do pobre homem. Ele sabia que há muito já não era o mesmo, mas um monstro?! Não, ele se recusava a aceitar que era isso que ele havia se tornado. Pobre homem desalmado! Encontrou no não a esperança. Jeito pior não há de se reconhecer a maior vitória num disfarce da derrota e humilhação.
Puxou a cadeira para junto de si, caiu como pedra que se atira no rio, quica, quica e afunda. Ele começou a se lembrar dos tempos de ainda menino, quando se apaixonara pela vizinha, também menina que descobria no balançar das mãos  e risos descontraídos o amor.  Aquela menina magra, de olhos grandes, que nada diziam, esguia e malandra fora seu primeiro amor.  Esse sentimento durou dois dias. Até ele começar a achar que meninas eram umas chatas, frescas com quem não dava para brincar de luta. Lhe diziam: ‘em meninas não se bate nem com uma flor’.
-Nem quando elas merecem?
-Nem assim.
-Droga! E saía de braços cruzados porque menina daquela idade, pelo menos, as que ele conheceu, eram muito mandonas e gritavam com medo de barata.
Na adolescência, apaixonou-se mais uma vez. Dessa vez, o amor  duraria mais que dois dias e dois verões. Não, não foi bem assim. Durou  o suficiente para se estudar para as provas e até o outro carinha notar que fulana só queria usá-lo para fazer ciúmes. Babaca! Era isso que ele pensava a respeito de si próprio. E também era o que outros meninos, amigos dele, também achavam.
Uns poucos anos depois, apaixonou-se tempo suficiente para aquele sentimento se transformar no mais bonito amor. Sim, daquela vez tinha dado certo.  Foi com uma menina magrela e sem graça – à primeira vista – que ele dividiu sonhos,  esperanças e futuro. Fora ela quem o viu tornar-se homem em meio à morte do pai e a responsabilidade sobre a mãe e os irmãos mais novos. Ela o vira chorar. Ela o vira errar, ir embora, pedir desculpas e voltar. Ela o vira trocá-la por outra.
-As coisas já não são as mesmas. Ele dissera. E foi assim que aquele romance terminou.
-Não são porque você não quer que sejam. E foi assim que ela teve seu coração partido.
Ele apaixonara-se por  uma colega de faculdade. Nada mais natural, dirão alguns. Mas garanto, natural não era. Não era porque não era de verdade. Fora muito mais fácil se deixar levar por leviandades que faziam sentido somente por poucos momentos. Ele se enganava, brincando de paixão à primeira vista, mas sabia que com aquela mulher, ele nunca poderia ser o homem que nasceu para ser. Ele achava assustador pensar que somente seria um com a que ele um dia deixou.
Mais uma vez, como outras antes, ele fora enganado. Mas não só por ela, muito mais por ele mesmo. Não quis ver e aceitar a verdade que se dispunha como farol aceso nas noites guiando navios e pequenas embarcações. Ignorou a luz, apagou-a dentro de si e colidiu. Colidiu e queboru-se. Quebrou-se tanto ao ponto de não haver remendos. Por isso hoje brincava de amores. Divertia-se com mulheres que não lhe interessavam, passava o tempo na companhia de alguém que nem sabia o sobrenome, nem fazia questão de saber, tampouco. Era assim: dias solitários e ele podia senti-los profundamento em cada suspiro que dava.
Um dia, como qualquer outro, encontrou-se novamente, encontrou-se naquela que sempre estivera ali, mas que cansou de esperar. 
Pediu perdão e disse que não tornaria a errar, que era ela quem ele amava e era com ela com quem ele queria ficar.  Achando que para o amor, deve-se dar uma segunda chance, ela disse sim. E foram felizes. E qualquer um que os conhecesse diria o mesmo, talvez até mais.
Era amor. Era de verdade. Era verdade.
Talvez tenha sido por isso que ele a traiu, queria ter certeza que era ela, queria estar com alguém pela última vez e ter a certeza derradeira de que era ela. E foi a última vez. Mas ela viu, sentindo-se humilhada, desrespeitada, preterida disse-lhe com palavras amargas e molhadas o monstro que ele se tornara. Ele quase não podia acreditar. Ela disse que não, que já era tarde demais. Foi embora, pela última vez.
Ele, sentado naquela cadeira, sabia que tinha sido a última vez. Sabia que nada adiantaria ligar, chorar, esperniar ou se comportar como uma criança que quer muito um brinquedo mas não tem idade pra brincar, por isso chora, grita, faz manha.
Seria mesmo ele um monstro? Tão insensível ao ponto de se perder novamente? Ao ponto de declinar a oferta gratuita de um amor puro? Sim, ela a perdera. Ela se fora, tudo porque amor quando é forte demais, puro e verdadeiro, se os dois não têm coragem suficiente para viver, o amor assusta. Ele se assustou.

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

11 comentários:

  1. Olá,
    primeiramente obrigado pelo comentário.

    Seu post é muito bom, você soube buscaar detalhes que penso que só sabem quem já passou por isso. Posso dizer também que as ultimas frases foram como socos no estomago, tamanha verdade explicita nelas.

    Gostei e voltarei mais vezes.

    Atenciosamente, SRed!

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  2. Eu gostei do texto, mas não acho que o amor assusta, se ele se assustou foi porque o que ele sentia não era amor.

    Abraços =D

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  3. @Sand_dejesus ... acho que às vezes assusta sim, não por medo, uma vez que o verdadeiro amor lança fora todo o medo, mas porque ainda não estamos prontos pra ele, ainda estamos presos à pequenez das coisas diante da grandiosidade do amor.
    Mas, sim, de fato, em alguns casos não é amor mesmo. :)

    SRed e @sand_dejesus, obrigada pela visita e voltem sempre! :D

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  4. Obrigado pela mensagem minha querida. São pessoas como você me fazem desse meu hobby umas das coisas que mais me da prazer.

    Adorei seu blog, como faço para segui-lo?

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  5. lá embaixo da página tem os seguidores, ai tem um "Seguir" em cima. é só clicar!
    Mas sério, suas fotos são demais. Aquelas de maracatu estão maravilhosas! onde foram fotografadas?
    Beijo e obrigada pela visita!

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  6. Obrigado pela visita em meu blogg.. ;D já estou te seguindo ;D .. adorei o texto.. voc sabe expor as palavras e demonstrar sentimentos.. eu acho que o amor tanto assusta como não assusta.. depende da pessoa que sente amor e o modo que ela demonstra este amor.. ou se a pessoa realmente esta sentindo isso mesmo.. beziitos.. ;D

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  7. Parabens pelo blog. Sucesso!
    Para dicas e truques de maquiagem acesse: http://makeuptokill.blogspot.com

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  8. Amei o Blog. E as postagens também. ^^

    http://osoprodaabobora.blogspot.com/

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  9. Adorei o novo template, gostei mais ainda de ver meu blog nos favoritos do seu site.

    Obrigado pela gentileza, querida.

    beijos

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  10. nossa muito bom!

    "...Esse sentimento durou dois dias. Até ele começar a achar que meninas eram umas chatas.."

    me fez lembrar da adolescencia..uma dia vc ama noutro vc odeia..sao os hormonios..

    abraços..

    ps: publiquei a segunda parte do livro..adoraria saber sua opniao..

    http://papiando-adoidado.blogspot.com

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