23:51
E já faz tanto tempo, tanto quanto quase eu já nem lembro. Mas não esqueço da noite que vi os olhos castanhos perdidos entre tanta gente luzir como farol. Meu coração era um pequeno navio nadando ao relento e fez soar o sino quando foi atingido, notado naquela escuridão que se perdia no horizonte.
E o lugar onde se perde também é o que se acha. Me encontrei para me perder ao fim de um musical de romance piegas. As cortinas fecharam, e caminhamos para o salão principal.
‘Poderíamos dançar aqui algum dia’. Pensei enquanto olhava extasiada as esculturas em algum material que fingia ouro, e os anjos com carinhas redondas e sorrisos doces concordavam do alto.
A mulher de cabelos curtos e pretos me encarou. Sorriu. Sorri de volta. Ela consentiu. Deixamos o salão principal sem olhar para trás, marchamos para os grandes portais de vidro sem dar um último adeus às melhores memórias de uma vida.
Que seja doce, lembrava do verso. E era doce, era doce. O gelo derretia na calçada, enquanto deixávamos pegadas que jamais seriam lembradas. Deixamos também as vontades, o calor. Carregamos a dor. De braços dados seguimos até a Grand Ave e Clark. Seguimos nossos caminhos, dessa vez de braços dados com a dor de cada um, com os sonhos que continuariam na gaveta e nos bolsos do casaco preto de gola alta.
Um abraço, um sorriso. Nenhum adeus.
Muito lindo Manures. ^^
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