a última chance, pt2

quinta-feira, maio 05, 2011 2 Comments

Olhou-a mais uma vez, decorando cada marca do rosto de Nina,  cada traço de sua fisionomia tão deprimente.
-O que é que você tá olhando tanto?
-De repente percebi que minha amiga se foi há muito tempo, você se tornou uma dessa  gente que não serve para mim. Você é uma ilusão, Nina.
Ela rumou em direção à porta. Abriu-a com um rangido e parou.
-Antes que eu esqueça. Isso é pra você.
Entregou um envelope e saiu.
Nina logo abriu o envelope e dentro encontrou uma carta. É verdade, uma carta bem amassada e que ela reconhecera: uma carta em que nos auges dos quinze anos ela escrevera para aquela mulher. Entre as frases, lia-se “Obrigada, amiga, por não desistir de mim, por acreditar que eu posso fazer as coisas certas. Pode ter certeza que quando você precisar, estarei aqui pra você também. Anita, nunca mude. Você é maravilhosa do jeito que é, te amo.”
Ler aquilo foi como sentir uma faca atravessando o estômago. E como quem não está satisfeito, remexe a faca dentro da barriga, perfura várias vezes, só para intensificar a dor. Mas não há ninguém lá além de você e do remorso que sente. Lembrou que das últimas vezes que Anita precisou dela, ela nunca estivera aqui ou lá ou em lugar algum. Estava sempre muito chapada para tomar qualquer atitude e depois que o efeito sumia, ela esquecia das coisas e logo procurava mais drogas.
Percebeu ainda que havia um pequeno cartão dentro do envelope que dizia:
“Dia 21 de outubro se realizará a missa de sétimo dia de Maria Alina do Nascimento.
A missa será dirigida pelo padre João Alzin, na catedral do Porto, às 17h.
‘Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá’ – Jo 11:25-26”
Aí a dor foi ainda mais forte. Sua mãe havia morrido há uma semana. Ela lembra de uma ligação que falava de morte e de ouvir alguém chorando. Mas era só isso: um sonho nublado.
Ela correu em direção a rua, em tempo de ver Anita ligar o carro.
-Por que você veio? – Gritou com raiva, ela não queria aceitar a realidade. – Você veio para acabar comigo de vez? Era isso que você queria?
Anita baixou o vidro, olhou-a e disse calmamente:
-Eu vim porque eu acredito que em algum lugar a Nina que eu conheci ainda está aí e queria que ela soubesse que ainda não é tarde demais.
A última visão que Anita teve de Nina foi ela lá, em frente à ruela sem saneamento, descabelada, segurando um envelope branco na mão. O último vislumbre até Anita reparar  pelo retrovisor  que Nina adentrava mais uma vez na ruela.


Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Meus parabéns!!
    Muito bacana esse espaço!
    Vou add la nos links
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. bom blog , ja seguindo , segue o meu ae

    http://andyantunes.blogspot.com/

    ResponderExcluir