Howard to 95th-Dan

domingo, janeiro 08, 2012 3 Comments


Entre todas aquelas pessoas presentes, uma não era facilmente notada.  Também estava sentada, também fazia o mesmo caminho que a maioria dos usuários e, de fato, precisaria de ao menos duas investidas sinceras com o olhar para perceber a garota sentada no lado esquerdo do trem.  


Ela usava um encharpe verde e era o único artefato colorido naquela roupa de inverno.  E era tudo o que ela precisava para resplandecer ainda mais aquela áurea de menina-moça que acabara de se descobrir mulher.  De fato, ainda guardava um certo trejeito infantil, inocente, mas tirava de algum lugar toda a segurança de uma mulher moderna e bem sucedida no auge de todas as experiências de trinta e cinco anos.  Mas era ainda uma jovem.


Do meu canto, vi que fechava os olhos com uma certa lentidão. Tomava algumas doses de ar, respirando profundamente – talvez tentasse se manter no controle da situação, tentando mostrar ao próprio corpo que era ela quem mandava e que não admitiria nenhuma surpresa dali em diante. Talvez a ansiedade e o medo já a tivessem traído alguma vez, não sei. São meus pensamentos somente.


Da bolsa, puxou um livreto. Não consegui ler o título. Ela folheou, folheou e finalmente encontrou a página em que tinha parado de ler aquele capítulo que fala do encontro dos jovens apaixonados, mas que também fala das dificuldades que encontrariam dali pra frente.  Não, também não consegui ler essas coisas. Isso tudo eu estou presumindo porque ela me pareceu o tipo que lê romances. Ela me pareceu esse tipo raro de meninas-mulheres que ainda acreditam no amor, na força escandalosa e sem explicações do amor. Acreditam porque nasceram para acreditar, e poderia ser em qualquer outra coisa. São pequenas estrelas que se transformaram em gente num dia de chuva de meteoros. Por alguma confusão no espaço, as estrelas vieram parar aqui na Terra em forma de gente. Não é tão difícil reconhecê-las: geralmente, vivem se doendo por dentro por sentirem o mundo de forma intensa demais, por não saberem viver nesse planeta, com essa gente comum, e ainda assim vivem de forma gloriosa. Dão uma cara nova a tudo: as coisas sempre ficam mais bonitas com esse tipo de gente por perto, e acaba que a gente acredita também.


Mas ela não demorou muito lendo aquelas páginas já um pouco amareladas – 
devia ter aquele livro há bastante tempo e só agora tomou coragem para ler. Pegou o celular da bolsa, fingiu que digitava uma mensagem para alguém, depois se sentiu completamente boba por fazer aquilo: fingir que tinha alguém para mandar mensagem e dizer o quanto estava apreensiva. Ela riu, e sentiu-se triste, bastante triste. Ela queria ter alguém. Na verdade, ela tinha alguém, o alguém é que não fazia ideia do que tinha em mãos. Guardou o celular. Cruzou os braços e esperou.


Esperou de olhos fechados durante todo o resto do trajeto, talvez fazendo alguma prece, talvez guardando energia, talvez somente dormindo um pouco. Talvez. Não sei de muita coisa para ser sincero, mas sei que ela me sorriu quando a moça anunciou: “Grand and state” e foi um dos sorrisos mais bonitos que já vi na vida. Era um sorriso meio encabulado, meio pedindo encorajamento, meio dizendo que era chegada a hora. Mentalmente, lhe desejei boa sorte e sorri de volta consentindo com a cabeça. Sim, seria um grande dia para a menina do encharpe verde.


Ela saltou e não olhou para trás. Estava decidida a seguir em frente, sem remorsos, sem medo. Era ela e aquele dia seria um bom dia, afinal de contas. 

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Minha 100º postagem. Que também seja um bom dia para todos vocês que aparecem por aqui. Desculpem a demora pra postar, andei ocupada esse último mês. Um ótimo ano novo para todos, como diria Caio, que seja doce. ;) 

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

3 comentários:

  1. Bom dia, da mesma forma que ela pensa não ter alguém, alguém por ae muito melhor do que a pessoa que ela quer, suspira por ela em algum canto isolado. Deve se sentir da mesma forma, ou até mais entristecido por saber que ela queria outra pessoa. Penso que tem estrelas que acabam perdendo o brilho, as vezes por motivo sensato, outras por permitir que isso aconteça, mas vc meu bem... vc acabou de iluminar meu dia.

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  2. 100 posts!
    Parebens!
    Particularmente amei sua postagem numero 100 assim como o visual o blog, bem moderno colorido e dinamico.
    Sucesso pra vc linda, bjs

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  3. Oi manú, esta é a minha primeira visita neste blog, e por sinal é um ótimo blog! Gostei do seu post de numero 100, muito criativo.

    passa la no meu blog?

    http://errosxacertos.blogspot.com/2012/01/sentimento-incondicional.html


    Beijos, até a próxima!

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