Essas linhas.
Ter maus momentos para escrever é natural, pelo menos,
acredito que seja. Já li história e ouvi rumores de escritores lamentando a
partida das palavras. Sim, palavras chegam a ser temperamentais: num instante,
sempre imprevisto, as palavras somem com as histórias ainda mal delineadas
devido ao tempo que não se consumou. Tudo se vai e a ausência pesa, e o papel
sobra, assim como sobram os medos.
É nesse estado que me encontro e entre tantos meios de me
achar perdida em alguma linha que outrora foi minha – porque a arte é de quem
precisa dela -, gosto de ler: matérias policiais, Machado, Drummond, Bandeira,
Lispector, os Grimm, Lewis, Austen, receitas de bolo, bula de remédio e textos
da internet. E nada tem feito meu
coração palpitar mais apressado. Falta pressa, falta a urgência da vida que
escorre pelas mãos e te cobra cada segundo perdido com coisas que você nem
lembra, coisas que eu nem lembro e nunca fiz questão de esquecer.
“Coisa boba” devem pensar alguns; que pensem, retruco do meu
canto. Escrever sempre me foi meu maior alívio: planifico a realidade,
deixando-a menos ardente e menos volúvel, e posso assim, analisá-la e, quem sabe, achar
uma resposta. Muitas vezes não acho nada, mas me traz calma e, assim, consigo
seguir meu caminho tortuoso – mas meu.
E sigo. Sigo porque a busca é real e a necessidade é pura.
Quero encontrar o que é meu: meus traçados ingênuos, fracos, valentes, obscuros
– mas sempre meus. Quero encontrar a minha parte e da junção de várias partes
fazer nascer um inteiro: fazer-me nascer de novo.
A reconstrução é diária e vital para a sobrevivência. A vida
segue sem cobrar as digitais, mas corre exigindo alma, exigindo vida. E vida, a
gente só acha vivendo.
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