domingo, abril 15, 2012 0 Comments

trecho do livro de inacabado e esquecido na gaveta "Anabele".


Anabele queria tanto falar sobre todas as coisas que passavam pela sua cabeça, e pensava que num ímpeto, mesmo sem querer, as palavras iriam sair pela boca e escancarar o vazio que ela andava sentindo. Iria falar sobre como se sentia perdida, distraída, sozinha e até chateada com Deus – Nossa, como ela estava chateada! O que a fazia sentir-se pior, pois não sabia se podia sentir-se assim com Deus, o Todo-Poderoso.


Como já disse, nesses tempos, eu nutria uma certa compaixão pelo estado da garota. Era de cortar o coração, inclusive daqueles que fingem não possuir um. E eu suspeito que, nesses casos, as coisas ficavam ainda mais difíceis de suportar. Eu era um desses, e vê-la naquele estado e em estado piores, me quebrou as pernas, se é que você me entende. Me deixava sem ação e, mais uma vez, cara-a-cara, face-to-face (como dizem os que se acham cool), com a minha própria fragilidade. E ninguém gosta de ser obrigado a se olhar no espelho. É como ficar nu numa festa de gala, a diferença é que, quando consciente, a vergonha de si mesmo é muito mais profunda. Eu a via lutar contra si mesma, como se houvessem duas forças nela: uma que insistia em dizer que aquilo não passava de bobagem e que sozinha conseguiria encontrar um jeito para sentir-se melhor, e outra que dizia que sozinha ela não era nada. Com o passar do tempo, fui levado a acreditar na segunda. Não somos ninguém sozinhos e, hoje, mesmo não sendo ainda muito religioso, acredito que a criação de Eva é um exemplo explícito de que precisamos de alguém  em quem nos apoiar, um alguém para conversar, um alguém para contar. Precisamos de um alguém para viver.

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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