Era uma janela. Era um quarto. E era noite.

No céu, estrelas. Na rua, carros. Na janela, ela e o barulho do motor de um carro que dobrava a esquina.

Presa no brilho das luzes da pequena cidade, ela contemplava o parque e pessoas caminhando, provavelmente querendo manter-se em forma ou à procura de um amor. Um amor perdido que passaria perto da ciclovia. De cima, do alto do quarto andar, ela via e só via e se esvaía pensando em tudo que poderia ter sido e não era. Pensou nos amores não correspondidos, nos amores que se foram, nos amores que ela deixou para trás.

Recusava-se pensar no futuro, seus planos nunca davam certo mesmo. Aprendeu a desejar quieta, torcendo para que o destino fosse seu amigo e lhe desse de presente um futuro bonito, de paz, calmo e azul como o céu sereno acima.

Está tudo como devia estar, pensou. Mas logo desandou a pensar em qualquer outra coisa que não a levasse a tantas possibilidades sem concretização futura.

Por isso, se apegava ao passado, analisava-o, querendo ter certeza de que quando o futuro enfim lhe aparecesse, ela o convidaria para tomar um sorvete de chocolate.

Mas o que passou quatro andares abaixo, na rua, foi um carro tocando um batidão. Era um chamado:

-Menina, deixa de sonhar acordada! O futuro é já e agora já foi! Volta pra terra, menina! Aqui é bom de se viver. De se deixar viver...