Do interior...

sexta-feira, julho 22, 2011 6 Comments

Eu daria tudo para permanecer ali, sentada na calçada, às cinco da tarde, sentindo o cheirinho das crianças que tinham acabado de tomar banho, o sol se despedindo entre as colinas verdinhas lá longe, olhando o último ônibus do dia chegar à cidadela que foi minha primeira morada, deixar gentes e ir embora pela mesma rua que veio.
Aquele ar e aquela luz meio-tom do sol, luzindo entre as árvores e telhados velhos, me dava paz. E paz era o que eu precisava e andava precisando havia tempos.  Toda aquela cena, desde as àrvores, o vento, as pessoas e as crianças que corriam às fofocas de janela e o doidinho que descia a rua balançando seu pedaço de pau, ameaçando a jogar nas crianças que tripudeavam do pobre homem, me encatava. Me levava pra longe de toda a agitação da cidade e me fazia não querer voltar. As coisas são simples no interior.  As coisas são boas. Os corações são abertos e sinceros, coisa que não se encontra com facilidade na cidade. Era dessa sinceridade e da ausência do medo em expressar sentimentos que eu sentia mais falta quando retornava ao concreto, buzina e fumaça. Era isso o que mais me magoava: ele não era do interior, não sabia o que era o interior, nem se daria o trabalho de fazer uma visita, correr o risco e conhecer o interior.
Ele dizia ser um lugar selvagem, terra de ninguém. Os vales são profundos e a água do rio é fria, tem correnteza, te leva pra longe. Por mais que eu argumentasse que apesar disso tudo, o rio ainda era um rio, tinha águas claras, era frio porque no fim refrescava e a correnteza só levaria para longe se você deixasse, lógico que não deixar exigia esforço, força de vontade. E os vales, apesar de profundos, são bonitos pra quem sabe olhar e admirar a maginificência do Deus que está nos céus e cuida de nós.
Eu devia ter entendido desde o começo, se assim tivesse feito, talvez minha paz nunca tivesse sido roubada e os momentos no interior seriam cada vez mais presentes, costumeiros. Eu devia ter entendido que não importa o quanto a gente mude tentando mostrar a alguém tudo o que ela representa em nós, há pessoas que não enxergam, não estão prontas para enxergar ou não foram feitas para enxergar certos tipos de coisas...  há pessoas que marcam mas que nunca serão capazes de se arriscar no vale, porque marcam apenas superficialmente,a gente é que cutuca, cutuca, fere, deixa entrar, sangra, cicatriza e fica lá; a marca nos lembrando o que nós fizemos com nós mesmos. Ah, se eu tivesse entendido. Seria mais fácil. Mas se eu tivesse entendido, não entenderia coisa que só entendo agora. Há pessoas e pessoas, nem todas compreendem a beleza e os ensinamentos do interior, nem todas tem coragem de ser sinceras com os próprios corações ou consigo mesmo. E o interior continua aqui e lá, sempre aberto a quem quiser visitar.
Já ia dar seis horas, era hora. Hora de voltar. 

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

6 comentários:

  1. Que conto bonito. De uma sensibilidade poética incrível! Realmente há pessoas que não conseguem enxergar algumas coisas, pois certas coisas só podem ser vistas com os olhos do coração.
    Um grande beijo

    http://alma-feminina.blogspot.com/

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  2. Seu texto me proporcionou muita paz =) Parabéns pelo blog!

    http://mmmorango.blogspot.com
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  3. Adoreeei aqui, amei o post. Parabéééns!!

    Vocês vão adorar!!!
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    Beeijos [blue][b]*-*

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  4. Você escreve muito bem, parabéns!
    Seu texto é sensível sem ser demasiadamente melancólico ou dramático.
    Muito bom!


    http://resenhandomm.blogspot.com/

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  5. é literalmente a realidade
    mas tem isso nas grandes cidades
    o problema é que nós nunca conseguimos tirar 5 minutos pra perceber isso

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