Tinha que ser você,

quarta-feira, novembro 10, 2010 0 Comments


Quando te encontrei naquele dia, naquela tarde de outubro, onde o sol se despedia reluzindo em tantas cores bonitas, foi quando eu percebi o quanto ainda somos iguais, o quanto ainda éramos nós, um no outro. As coisas não mudaram tanto assim, não é? Tanto tempo sem te ver, tanto tempo sem sentir suas mãos e braços com veias proeminentes envolvendo meu corpo num abraço caloroso, num abraço tão cheio de afeto e recordações. Mas a nossa história ainda estava ali. Estava no seu sorriso, no meu sorriso, nos seus olhos, na minha pele, nos nossos corações. Estava tudo ali, do jeito que tínhamos deixado.
Caminhamos pelo saguão do aeroporto com poucas palavras, mas quem precisa de palavras quando temos a presença? Era bom caminhar em meio a tanta gente estranha e para quem eu não existia, porque ali, naquele momento, eu era mais que só a existência, e não só existia, porque o existir, às vezes, é só o peso da matéria; eu era a mulher que um dia foi menina ao teu lado. Você conhecia a minha história, você sabia onde cada vírgula se encaixava, não somente após vocativos ou separando um adjunto adverbial deslocado. Éramos nós e toda aquela gente estranha era só os outros.
Ah! Como senti saudade dos teus olhos me olhando de um jeito só teu. Por um tempo, achei que estávamos arruinados, e você não pode me culpar, você foi morar em outro estado e eu fiquei aqui e essa distância estava aniquilando todo o nosso jardim. Você já não me contava como tinha sido o seu dia ou dos seus medos ou da sua nova paixão. E, por falar em paixão, graças a Deus você e aquelazinha terminaram, porque ela não era para você. E eu tentei de avisar, mas você não quis me ouvir. Você alegou que eu estava com ciúmes, disse que eu já não estava conseguindo lidar com o fato de estarmos vivendo vidas separadas e que aquelazinha era o golpe de misericórdia para mim, ainda disse que nada mudaria entre nós. E tudo o que eu queria te dizer era que ela não era para você. Talvez fosse até um pouco de ciúme, e acho até que foi - ver você apaixonado daquele jeito por alguém que não merecia o teu amor e que estava roubando você de mim, ela estava ocupando o meu lugar... aliás, estava numa posição mais alta que a minha: além de namorada, era a sua amiga. Mas eu estava certa no fim das contas, não é? Ela arrasou você e por causa dela você começou a agir como um idiota - você estava tão insuportável e mesmo eu não querendo gastar meu tempo com você, eu continuava te amando -, em todos os sentidos. Você começou a me tratar mal, porque, de repente, você achava  que em um momento ou outro eu ia te quebrar as pernas, os braços e o coração - como ela fez. Confesso que devo mesmo amar você, porque era difícil continuar te amando enquanto você tentava me manter afastada com palavras rudes e um mal humor fora do normal, era cansativo ver você construindo uma muralha entre nós e no fim do dia, eu ir lá e derrubar tudo. Mas éramos amigos, você estava com medo e eu estava distante. Não podia segurar tua mão, nem te beijar a bochecha ou ter você deitado no meu colo. Era tudo mais difícil, mas você era meu amigo, e por você, eu faria isso mil vezes.
Comemos, conversamos sobre tudo e aproveitamos nosso tempo. Ah! Como é bom estar com você. Confessei que eu queria um amor assim, que me enxergasse como quem vê o por-do-sol no ápice da montanha pela primeira vez, que me entendesse com aquela sabedoria e paciência de quem lê o mesmo livro pela sétima vez, e não se cansa... sempre acha algo novo. E você, para levantar meu ego, disse que seria uma honra me ter como amiga, namorada e mulher. Mas logo chegamos à conclusão de que não era possível ter tanta coisa boa junta numa pessoa só, porque quando caíssemos a dor seria mais forte, o abismo seria mais fundo. Mas ficamos nos encarando, e eu sei que você pensava a mesma coisa que eu: "E se for possível? Não somos nós que, com a permissão de Deus, fazemos as coisas acontecerem? E se, de fato, caíssemos não seria melhor saber que apesar de tudo, haveria uma mão lá disposta a te ajudar e tentar de novo? Mas, mais que isso, uma mão que você quereria segurar?".
-Os melhores amores nascem das grandes amizades. Foi o que você disse por último. Eu tenho que concordar. Acho que é isso, a gente devia mesmo abrir os olhos e enxergar quem realmente se importa com a gente. A gente precisa parar de arrumar desculpas e por enfeites onde não precisa, nosso amor era natural, cultivamos todos os dias das nossas vidas, como uma flor, foi desabrochando. Sim, o tempo foi nosso aliado. De fato, há tempo determinado para tudo, precisamos passar por algumas experiências, nem sempre boas, para aprender mais de nós mesmos e poder se achar no outro. O tempo e as nossas escolhas diárias de permanecer ali, mesmo quando não éramos solicitados nos ensinou a amar apesar de.
E foi isso que eu fiz. Parei de colocar enfeites nas coisas, em nós, só para ter a breve sensação de quando olhasse para você, eu pudesse ver somente um amigo. Parei de enfeitar o natural e puro, porque eu já não te enxergava com esses olhos que um dia a terra há de comer, mas te enxergava com um coração que pulsa, uma pele que arrepia, uma língua que sente. Eu te enxergava com tudo que há em mim, mas mais bonito, intenso e melhor que isso, era te poder te enxergar com a alma. Uma alma que se encontrava na outra. Você não era mais como meus outros amigos, nos quais minha alma encontrava pequenos pedacinhos de si mesma escondidos embaixo de tanta carne e ossos, com você, minha alma era inteira, a peça final do meu quebra-cabeça. A gente se completava. Então foi isso que fiz: abri os olhos e te enxerguei e a única coisa que lembro e me vem à cabeça ainda hoje, quando vejo você dormir, ao meu lado, é: Tinha que ser você.

Maggie

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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