da saudade,

quarta-feira, novembro 24, 2010 2 Comments


Enquanto eu gasto os meus minutos pensando no que poderia ter sido e não foi, e fico rejeitando humildemente a realidade atroz que se apresenta à minha face, vejo a saudade crescer dentro de mim e atropelar-me; deixando-me sem chão, deixando-me apenas com um coração em frangalhos que nesse instante nem tem mais forças para se recompor. Dói.
Como eu cheguei até aqui? Em que ponto não percebi, que certas conquistas obrigam você a desapegar-se do que você ama. Falo em desapego, daquele desapego que você realmente tem que se desapegar, para que você não sofra tanto quando a saudade bater na porta do seu quarto em um sábado à tarde, que em qualquer outro lugar seria promissor, mas não aqui. Talvez não entenda desse desapego que falo... aquele desapego que você desenvolve com o tempo para não mais sofrer, para que quando doer tanto, você já não tenha tantas lágrimas... Aquele desapego que você desenvolve para se proteger... Se proteger de si mesmo e de suas memórias, ainda tão frescas.
Não achei que fosse ser tão difícil, não tão difícil quanto é agora.
Não achei, sinceramente, não achei que fosse tão frágil e que, em tão pouco tempo, já estaria declarando ao mundo que sinto falta de todos. Sinto falta do cheirinho pós-banho de Logan, que não durava mais de dois dias... Sinto falta da minha mãe dizendo-me para ser mais responsável com minhas coisas; do meu irmão implicando por qualquer coisa boba; do meu pai dizendo para dar um tempo do computador; de Wilma dizendo que não mudou minhas coisas de lugar; dos meus amigos, das horas preenchidas de palavras e risos e comida e sorvete e das horas de silêncio, dos momentos em que gastávamos fazendo absolutamente nada, só apreciando o momento e a presença.
Ai, Deus! Tantas coisas eu não entendo! E não é por falta de tentar...

Aqui não é meu lugar. - Eu repito e repito para mim mesma. - Meu lugar é lá, com eles, com tudo.
A dor dói mais porque a verdade está estampada, fazendo um quadro frio e melancólico, na parede branca do meu quarto mostrando-me que eu estou justamente no lugar onde deveria estar.
Não é a melhor das verdades porque ela me fala muito mais... Me fala que eu não tenho lugar, meu lugar é lá e cá e o deles aqui, comigo. Não importa aonde eu vá, eu levarei tudo isso comigo, desde o cheirinho bom de Logan pós-banho até o gosto dos domingos em Casa Forte com sorvete de amendoim.

Maggie

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Maggie, apesar da separação física, arrastamos conosco aonde quer que estejamos nossas lembranças, nossos sentimentos e grande parte de nós, que é intrínseca ao "lá". Como uma postagem anterior diz, eles estão conosco em nosso coração. Envoltos aqui numa atmosfera densa e meio amarga cabe a nós, ressaltar a beleza nos mais simples detalhes de uma vida - há pouco banal pra nós,nada além de uma rotina tortuosa. Revelamo-nos um tanto vazios ao prescrutar nossa própria alma nesse novo caminhar, como que buscando por algo que nos preencha novamente, algum consolo, algum refúgio, um porto para ancorar a carga demasiada, excessiva que nos sufoca.

    A perfeição reside no entanto no simples destrinchar dessa nova jornada, contemplando (na maior parte do tempo, com um certo ar saudoso, saudável até!) o tesouro precioso que nos compõe: distante, intangível. Mas também é composta pelos momentos ímpares, ainda que seletos e relâmpago, do retorno, quando tudo aquilo vem à tona novamente e nós desfrutamos novamente tudo de melhor que há nesse mundo: aquilo que nós sempre tivemos!
    Aah, o afago ganha novo significado, torna-se mais aconchegante. Os olhares, os gestos e as falas, mais ternas, mais profundas, mais repletas e envolventes. Como num amplexo entre almas: nos sentimos cheios novamente.
    Agora prontos para contemplar novamente, sentir falta outra vez!
    Valorizar.
    Vamos ganhando profundidade e maturidade quanto aos nossos próprios sentimentos. E assim a vida vai nos ensinando...

    ResponderExcluir
  2. Dor é inevitável mas o sofrimento é opcional

    ResponderExcluir