Carta #4

domingo, outubro 09, 2011 3 Comments

Petrolina,  03 de outubro de 2011.

Foi tudo muito turbulento, no início. A presença dela me incomodava um pouco: muita solicitude, personalidade e coração grande tudo numa pessoa só.  Talvez fosse isso o que mais me incomodava nela: ela era aberta, não tinha medo. Era do tipo de garota que se entregava mesmo, intensa.
Era difícil estar na mesma sala que ela e não se deixar contagiar por aquela áurea tão leve. Você podia ser quieto o quanto fosse, mas, eu dou minha palavra e tão certo quanto dois mais dois é quatro, você iria se abrir com ela. Ela ia sentar do seu lado, olhar pra você com aqueles olhos grandes e um sorriso maior ainda e não haveria nada que você pudesse fazer, já estaria enlaçado por cordas invisíveis de afeto.  Era uma coisa magnética, uma coisa boa.
Eu não queria me apegar, as últimas experiências que tive com alguém ocupando o posto de cunhada não foram lá essas coisas, na verdade não foram coisa alguma – o que é muito pior. Essa ausência de ligação, como se não se encaixasse de forma alguma, tudo muito parado, sem despertar nada de bom – e como não queria perder meu tempo, não dei ousadia – como alguns baianos falam – para que fosse cativada e cativasse. Mas isso foi só no começo. Porque como disse, é impossível resistir. Todo o esforço é inútil diante de pessoas como ela. Contagia e, uma vez que a alma é tocada, não há volta.
Tentei não criar laços, tentei mesmo. Eu sempre acho que uma hora ou outra, as pessoas que aparecem em minha vida vão embora, somem lentamente e me deixam somente no passado. E, aqui, encontramos um outro problema: pessoas como eu não gostam de perder pessoas. Porque, sem vaidade, pessoas como eu gostam de verdade de toda e qualquer pessoa que aparece sem jeito na nossa vida e vai ocupando espaço devagar. E pessoas como eu, quando gostam, gostam mesmo, pra sempre. Eu me conheço, pouco, mas tenho uma noção razoável da mulher que me torno dia à dia. Não queria me deixar cativar para depois perder, porque eu sofro. Eu me apego e choro. Choro mesmo, calada, no meio da noite, porque essas coisas me doem profundamente.
Tenho aprendido a viver com o lema de que as pessoas não mudam, os sentimentos sim. Viver pensando dessa maneira tem me dado uma certa vantagem de bom-humor e satisfação todos os dias. Me faz entender mais generosamente as pessoas ao meu redor, ser mais paciente, mais gentil. 
Por questões alheias à mim, certas coisas mudaram, certos sentimentos mudaram.  E eu só queria que ela soubesse que foi bom ter ganhado uma irmã nesse em ano e meio que passou. Onde tanta coisa aconteceu, tanta coisa que exigiu tanto da gente. Que diante diante de toda a luta e infortúnios, eu agradeci a Deus por ter me dado uma amiga, uma irmã que me acolheu e me deu forças e que acreditou em mim.
Ela nem sabe o quanto eu gosto dela,  eu não demonstro para quase ninguém. Logan é uma excessão visível aos meus impulsos afetivos.  E poucos são os meios que eu consigo demonstrar o que passa aqui dentro, sem tanta vergonha; escrever é um desses meios. Uma maneira que resgatei em dias tão escuros para me salvar de mim mesma e deu certo, me ajuda.
Enquanto eu escrevo, eu percebo o quanto eu aprendi nesse tempo de convivência. E o quanto eu sou grata a Deus por ter me apresentado a uma pessoa tão especial. Infelizmente, pessoas são pessoas e é complicado e nem sempre dá certo e o que nos resta é respirar, continuar respirando, fechar os olhos, respirar novamente. E seguir.  Ela me ensinou isso.
Engraçado é que enquanto escrevo percebo que não a perdi de modo algum: o cenário mudou de forma somente, mas a amizade continua.
Machado de Assis diz que não importa o tempo; há grandes amigos de quatro dias que vão durar a vida toda e há amigos de décadas os quais você nem lembra o nome.  E pareça estranho como for, eu considero alguns autores amigos, padrinhos que me dão conselhos em horas amargas. E ouvir esse conselho em especial, me traz esperança. O que me faz orar e pedir a Deus que cuide de nossos caminhos e da nossa amizade. Me faz pedir a Deus, de todo o coração, que cuide da gente. Sempre. 

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

3 comentários:

  1. Me identifiquei muito, sei lá, o seu jeito de ser é praticamente igual ao meu. HAHAHA Ao todo, muito bem escrito. :) Seguindo desde já.

    Dá uma passadinha no meu blog, se quiser, claro:
    cliqueparafechar.blogspot.com

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  2. Se declaração bonita. Existem mesmo pessoas que nos conquistam e não podemos fugir. Sabe, também não sou de dar ousadia pra qualquer um não, sou bem fechado até, mas quando gosto de alguém, eu gosto mesmo.

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  3. Eu acho que todo mundo é meio assim...
    ninguém nunca se abre por completo no fim das contas, por mais que goste e confie em alguém :)
    Obg pelos comentários. :))

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