Realejo

quarta-feira, setembro 21, 2011 1 Comments

Caminhar à noite sempre me deu tempo para pensar, clarear as ideias e ouvir o vento que passa faceiro por mim.  Já fazia tempo que eu não fazia isso e, quando dei por mim, já eram onze horas da noite, era um vento frio e eu andava só. Coisa boa, ou ruim, depende, andar só com você. E a tua sombra que caminha calada ao teu lado, vez ou outra que faz um gesto repentino que você é capaz de notar.  Mas de resto, é só resto. São só as coisas normais e o dia-a-dia e os mesmos problemas e a mesma gentinha chata e sem graça e a mesma amargura que comprime a goela.  Sentimento ruim, frio como o vento que agora balança meus cabelos e me constrange com uma aparência de desilusão. Talvez seja essa a que realmente pareça comigo.  Mas eu não quero, eu digo baixinho enquanto a coruja pia.
No interior dizem que o pio da coruja à noite é presságio de morte.  Lembro do medo que tinha quando ouvia isso quando criança, hoje, já não temo tanto assim. Começo a pensar que pode ser uma saída, uma entre tantas possibilidades.
Morrer. A gente morre um pouco todo dia, principalmente quando abandonamos certos costumes. Mudar, não seria morrer um pouco? Pois bem, que pie a coruja, já não tenho medo da morte. Mais medo me causa a renascença, a redescoberta.
Volto aos meus pensamentos e fico martelando um jeito de descobrir como viver o hoje, parar de me poupar para o amanhã, adoecer por causa do incerto e deixar somente que o hoje seja verdadeiramente presente. As palavras que ecoam na mente são as mesmas ditas por pessoas diferentes: “você é frágil, você acredita, você quer tanto o melhor que não consegue ver o bom que está à sua frente e às vezes nem o mau que te magoa e fere. Você precisa aceitar que a realidade nem sempre é boa e parar de se magoar com isso, parar de se magoar sonhando...”. Talvez, murmuro baixinho, talvez. Mas eu quem será? 
Será tão errado achar que as pessoas são boas? É tão errado cultivar sentimentos bons por pessoas que nunca vi na vida, desejar bem, querer bem e pedir a Papai do céu todas as noites que as proteja? É tão errado ter uma alma boba? Uma alma ingênua?
Dizem (pedem) tanto para que eu mude, mas eu só sei ser eu mesma, apesar de não ser a mesma todos os dias.
Encaro o céu negro, nublado, e o vento tão forte me faz andar mais lentamente:
Ele me diz: “tem calma, tem paciência, uma hora cada coisa encontra seu lugar.”
Eu pergunto: “E há o meu?”
Ele não se demorou, tão rápido quanto veio, se foi. Eu paro, olho a rua em volta, é só silêncio. O único som é a minha respiração. Olho em frente e concluo que o que me resta é acreditar. 



Será que a sorte virá num realejo?  (...)  Ou talvez... um beijo teu que me empreste a alegria. Que me faça juntar todo resto do dia... meu café, meu jantar... Meu mundo inteiro...que é tão fácil de enxergar... E chegar.Nenhum medo que possa enfrentar.Nem segredo que possa contar. Enquanto é tão cedo.


Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

Um comentário:

  1. As coisas começam a dar certo a partir do momento em que acreditamos nelas... Ah, Teatro Mágico é maravilhoso...

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