Carta a Dudu Cavalcanti, #1

domingo, junho 12, 2011 2 Comments

Cartas... é uma seção que criei para me comunicar com outras pessoas, sejam outros blogueiros ou não blogueiros, a fim de contar um pouco do que estiver acontecendo dentro de mim, do meu quarto, da minha vida ou do mundo. Qualquer coisa enfim. Ah, e lógico para ver brotar a flor no deserto. Ter o que escrever quando não há nada que, em tal instante, possa ser escrito.

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Petrolina, 12 de junho de 2011.

Querido Dudu,

sabe aqueles dias em que tudo o que você deseja é descanso? Não só físico, mas emocional e memorial também -  se é que se pode falar desse jeito. Pois é, hoje é um desses dias para mim.  Tenho oscilado em ser persona  das minhas histórias – criadas, reinventadas, mágicas, ilusórias – e da minha própria vida.  Estou cansada das minha memórias e de sentimentos tão antigos. Ando querendo dar uma limpada na casa, colocar o que é velho no lixo e abrir espaço para coisas novas.
Uma coisa que sempre me agradou nessa coisa toda de escrever é que eu não sou muito boa com as palavras, embora possa ser tagarela quando em vez. Mas escrever me abre a possibilidade de colocar todas as Manús que vivem em mim e competem para vir à tona todos os dias quando acordo e, até, quando dormindo estou. Nada demais, alguns podem dizer, é coisa de quem tem a alma mais sensível a um mundo que não existe.  Mas devo confessar que ainda não me acostumei a tantas facetas. De qualquer forma, escrever se tornou um alívio. Uma fuga de uma realidade que ainda não compreendo bem – e é tao frustrante!
Por isso escrevo. Para tentar por ondem nas coisas, na vida.
Veja  só: resolvi escrever cartas, a começar por esta que se destina a alguém que nunca vi na vida mas é companheiro de estrada, porque minha mente anda um tanto esgotada. Vida de universitária não é fácil e juntando-se a isso o fato de eu, por mim mesma, não ser, digamos assim, fácil... complica-se tudo. Vê o nó?! Eu não verso, quase não poetizo, racionalizo demais, apesar de alguns me chamarem poetisa (não sei de onde tiraram isso, sinceramente) e cá estou me perdendo em poesias, algumas rimas ricas, a maioria, pobres,  versos que quase nunca fazem sentido e que quase sempre só cabem em mim, raramente se exteriorizam. Vê? Escrever esta carta, ao amigo – de quem estava com saudades dos poemas e vídeos – de quem só conheço por linhas e linhas, é o meu subterfúgio.
Não é minha intenção ofendê-lo por, de certa forma, chamá-lo de desculpa devido a minha ausência de criatividade e esgotamento mental. Não. Acredito que foi uma das minhas melhores ideias em tempos difíceis, tempos esses em que só aparecem textos pela metade, textos que não tem coragem de vir ao mundo e apreciar o nascer do sol. Eu diria que é um oasis no deserto.
Antes que aqui fique muito grande e dê preguiça de ler, quero que saiba que agora, mais que nunca, quero um opened field para mim. Culpa sua, escrever coisas que na maioria das vezes estão tão distantes. Ainda preciso dizer que amei o poema? Acho que já não se faz necessário.
Dudu, sabe o que me vem à cabeça quando leio seus textos? Que é tão bom não estar sozinho. Digo no sentido de haver pessoas que ainda sentem (de verdade!/ sem escrúpulos) a vida e os outros.  É bom não se sentir tão tolo apesar dos ventos contrários, dos que dizem o contrário.
É quase uma pílula do dia seguinte, após um dia vazio de esperanças e cheio de canalhices.
Mas enfim, torço para que em breve eu volte por mim – depois das minhas queridas provas e mais queridas finais e depois de outras doses de amizade desinteressada e construção de novos sonhos, eu volte com os textos que me ajudam a enxergar o mundo.  Torça por mim também. Não posso ficar me desmanchando em palavras sobre mim mesma, assim... de um jeito tão nu. Haha
E não faça como outras pessoas que insistem que me conhecem só porque eu escrevo coisas em momentos de falsa lucidez. Será nosso pacto. A dúvida, para que nos permitamos nos contruir baseados em nossas próprias impressões a respeito um do outro. Haha
-Meus textos por enquanto são só textos, textos de uma Manú que decidiu ser outro alguém e contar histórias para desconhecidos.

Não demore tanto para atualizar os Múrmurios ao vento!!
Com carinho, com saudade de alguém que só existe do outro lado,
  
Manú Soares.

Emma

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Manu, manuzinha , manuca e tantas outras Manu's que houverem de ler esse comentário.
    Digo logo que tudo que eu colocar nesse minusculo espaço vai ser incompleto. Porque uma das mais arduas tarefas que existem é se mensurar por palavras a beleza e magnitude que vagam no pensamento humano. Minha mente emite energia em sua direção, mas nao conseguirei transmitir ou materializar por aqui sequer um décimo da grata surpresa que tive ao ler tudo isso sobre uma amizade que se inicia sob os trópicos do mundo virtual.
    Poxa vida Manu, obrigado por ter me utilizado como cobaia para essa sua experiencia de escrever também cartas. Gostei muito da proposta. Pena que nem tudo sao flores, ja que essa novidade veio pairada num momento de turbulencia em sua vida. Alem de minha solidariedade, gostaria de dizer que, por ser mais velho que voce, ja passei por esses tormentos em que as tarefas parecem nao ter fim, e tudo é cobrado no mesmo instante. A gente se aperta naquela aflição, pedindo que o mundo pare de girar, implorando uma meia-hora a mais que demore uma semana para passar...E por tudo isso te digo que, mais cedo ou mais tarde, vai chegar a hora de se dar uma reforma geral, uma reestruturação na vida do sujeito, em que, feito uma faxina, se possam ir aquilo de desnecessário, fazendo que voce possa dar mais enfaze às atividades mais uteis para o bemviver. Nao se preocupe, mais cedo ou mais tarde, tudo vai se ajeitar, e depois dessa tempestade, voce vai ver o horizonte mais uma vez se azulando em seu favor! Ate que chegue este dia, pode contar comigo!
    Falando em contar com o outro, jamais pensei que um dia fosse considerar um convivio virtual de amizade. Contudo, estou a aprender que de fato, existe como se cativar e ser cativado com alguem sem que nunca se tenha visto um ao outro. Que barato! Sabe porque? Por que, como voce muito bem afirmou, nossa empatia vem do que chamo de senssibilidade aflorada. Pequenas coisas que ao olhar de tantos passam despercebidas acabam ficando em nossa retina, gernado um turbilhao de sentimentos quase indescritiveis que acabam desaguando nessas palavras lindas que voce escreve! Seu talento é grande. Nao deixe que alguns desafortunados e míopes de espírito te coloquem para baixo, pois sua virtude da sensibilidade é uma dádiva rara.
    Voce terminou a carta falando sobre alguem que só existe no outro lado. Termino a minha me colocando ao teu lado, para o que voce necessitar!
    Fica bem!
    Beijo grande,
    Dudu

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  2. Awn, Dudu! Caramba! Fiquei muito feliz que você tenha gostado da carta. Muito feliz mesmo...
    Olha, obrigada por considerar um convívio virtual de amizade. É engraçado como essas coisas acontecem, né?! Amizades (olha a ousadia, já te falando/considerando como amigo - haha) surgem dos lugares mais improváveis. Nessas horas só lembro de uma frase de um alguém e, agora, não me lembro quem... "Não se faz novos amigos, reconhece-os". Eu acho que já tinha dito isso em algum comentário no múrmurios, mas enfim... Só posso dizer que agradeço a Deus por essa sensibilidade aflorada que temos em comum, e como vc disse, ainda bem que estivemos com os olhos atentos e as pequenas coisas nao passaram despercebidas.
    Conta comigo também, pro que der e vier (se fosse menininho, diria pra quem der e vier também, mas acho que não combina muito. hahaha -além de ser um comentário meio baixo-astral...) Mas tenho certeza que vc captou a ideia. :D
    beeijo beijo,
    Manú

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